dezembro 04, 2015

Natal na terra de Alá




"O mundo... precisa aprender que já não existem fronteiras, sejam elas de países, raças ou religiões." 


Achei que seria o primeiro natal sem natal, ou pelo menos sem cara de festas de fim de ano. Estava completamente enganada. Para aliviar a saudade da família, nesta data onde todos estarão reunidos, decidi convidar amigos na mesma situação para brindar na minha casa. Todos amaram a ideia e começamos os preparativos.
Em país islâmico a última coisa que você pensaria em ver seriam imagens cristãs ou referências às festas. Foi quando minha ficha caiu! O Natal está muito a cima das barreiras religiosas. É uma data que encanta a todos. E eles nem sabem o por quê. 

_ we wish you a merry christmas, we wish you a merry christmas and a happy new year... Ouvi uma menininha cantando. 
Quando olhei eram crianças malaias correndo pela loja olhando os enfeites. 

Sim, o Natal vai além das fronteiras e isso me emocionou. Estamos acostumados com a diversidade em nosso país, mas não estava acostumada com a diversidade daqui. Pessoas que nascem, crescem e morrem dentro dos mesmos preceitos religiosos, tendo um amigo diferente aqui, outro ali. Mas o que predomina são grupos fechados. Parecem turmas de adolescentes, ou clãs, que não se permeiam. E ver essas pessoas se abrindo nesse momento me deixou curiosa. Fui a campo entender mais o que acontecia. 

Entrada do shopping mais ocidental de KL: Pavilion.

Decoração com bonecos que dançam e brinquedos
interativos para criançada.


_ Não comemoro o natal, não sou cristã. Disse uma chinesa malacia. 
Mas estava cheia de sacolas nas mãos. Quando perguntei se tinha feito compra, disse: são presentes! 

De natal? Segurei a pergunta e comecei a rir. 

Ouvi que alguns aproveitam o ano novo para trocar presentes, como no natal! Ah! E ainda enfeitam as casas. Sim! Como no natal! Com árvores, enfeites, tudo! Mas para comemorar o dia de ano novo. Engraçadíssimo.  

Outra amiga japonesa também disse: _ Não comemoro não! 
Mas veio mostrar guardanapos vermelhos que tinha comprado para a ceia. Ceia? De Natal? Mas não comemora. Meio sem graça ela fala baixinho: 
_ Mas meu condomínio comemora e vou à festa.
Ah! Agora entendi! Ninguém admite e comemora na sua própria casa, mas se tiver uma festa rolando por aí... 

Realmente os enfeites encantam e para mim é um momento mágico poder olhar os malaios disputando uma foto com o Papai Noel. 

Os olhos das crianças brilham ao ver o bom velhinho, o soldadinho de chumbo e o trem que montaram no meio do shopping. Como não brilharia? Enquanto isso a banda de saxofonistas exala harmonia e... Vou chorar! A garganta dá um nó nessa época do ano e as lágrimas parecem que vão rolar. Mas seguro ao ver uma senhora na cadeira de rodas encantada com a árvore cheia de cristais, enquanto sua família a prepara para mais uma foto. 

É! A magia do Natal está por toda parte. Mesmo não sabendo, escondendo-se atrás de presentes, comércio desenfreado lá está Ela. A gota original do que representa o natal: momento de paz, união e compaixão ao próximo. E mesmo sem saber, todos experimentam a comunhão. 

E assim será nosso natal: com preceitos verdadeiros! Não estaremos reunidos apenas porque a tradição manda. Estaremos reunindo diversidades culturais e religiosas em uma mesma mesa para compartilhar da alegria e da magia de amar o próximo. 

A lição de compaixão é a mais difícil: amar o outro como a si mesmo. Aprender a respeitá-lo e aceitá-lo assim como ele é! 

Hoje o mundo está precisando de paz. Precisa aprender que já não existem fronteiras, sejam elas de países, raças ou religiões. 

Para mudar o mundo precisamos mudar a nós mesmos e a nossa casa. Nada melhor que o natal. Uma data desafiadora e linda para começarmos a verdadeira mudança! 
E aí, você encara? 

Fiquei emocionada com essa senhora fofa.

Famílias: chinesa e malaia disputam espaço para
foto com o bom velhinho.

Menina muçulmana faz selfie natalino.




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