novembro 11, 2015

Bali - Contradição e Balanço



"Mais ou menos como nós: quando temos um espaço no quintal, corremos e construimos lindas piscinas. Eles mesmo sem espaço montam os templos."


Pisei em Bali sabendo que queria ficar. Senti algo estranho e não era o "famoso" frio na barriga.

Bali se revela aos poucos. Cada bairro tem uma atmosfera diferente, mas só compreendi a personalidade de cada área na segunda vez que voltei com mais tempo.

Às vezes, parece apenas uma cidade grande com uma arquitetura misturada, outras é perfumada pelo ar praiano. Ainda pode-se dizer do cheirinho de mato do campo ou da boêmia bucólica das ruas estreitas.

A ilha é a única hinduísta, entre tantas outras muçulmanas que compõe a indonésia. A religião não se faz presente apenas na decoração e nos muitos templos, mas está na atmosfera. Como eles vivenciam e tentam expressar sua filosofia. O hinduísmo balinês tem as suas características próprias. Apesar de ter vindo com mercadores indianos há muitos séculos, acabou distanciando de alguns conceitos e criando outros. Mas descobri o que Bali "TEM" com o Made, um balinês simpático, muito espiritualizado e que adorava contar sobre sua cultura.

Made é o nome dado ao segundo filho. Sobrenome por aqui não existe -- você é o Made, da província "X", da região "Y" e do templo "Z". O nome do templo é o nome da casa da mãe e consequentemente seu sobrenome. Aqui cada casa tem um templo, você consegue avistar nos  jardins por cima dos muros de pedra. Mais ou menos como nós: quando temos um espaço no quintal, corremos e construimos lindas piscinas. Eles mesmo sem espaço montam os templos.

Quando a mulher casa, não recebe o nome do templo do marido (sobrenome), mas passa a morar na casa da família dele e a pertencer ao mesmo templo. Dentro do mesmo terreno, em volta de um templo, observam-se muitas casas, uma ao lado da outra. Muitas famílias moram juntas do mesmo. Já imaginou a confusão que seria aplicar algo semelhante na nossa cultura?

Mas o que diferencia esse pequeno povoado que manteve as raízes, é o equilíbrio. Eles acreditam e praticam o equilíbrio como cultura de paz.

Cada balinês faz três preces por dia, para a harmonia com as pessoas, com o meio ambiente e com Deus - o universo. Dizem o quanto é importante gerar e cultivar pensamentos positivos, de paz e ter uma mente equilibrada. Além das rezas, meditam e fazem yoga diariamente. Conseguem imaginar uma sociedade assim? Isso explica o porquê tantas pessoas que chegam a Bali e nunca mais irem embora.

Templo Ulun Danu Bratan.
Localizado nas montanhas: é difícil um dia que não esteja nublado.

Templo usado para cerimonias de purificação. Localizado dentro da
floresta dos macacos, fica escondido perto do riacho.  

Bairro residencial com templos nas ruas e dentro das casas. Família com
vestes religiosas indo para cerimonial na época de cremação coletiva. 

Mas como todo lugar, descobrimos algumas contradições como os sacrifício de animais. Triste realidade, preferi não focar no assunto.

Na segunda ida a Bali, poucos meses depois, um outro Made (sim, metade da cidade chama Made) perguntou:

_ Você não gosta de briga de galo?
_ O quê????

Parecia uma máquina mostrando os bichinhos presos em cestos no meio da rua esperando uma rinha. É tradição local. Tão absurdo em imaginar que isso ainda acontece em nosso país, mesmo sendo proibido. E piorou quando o assunto foi para sacrifício animal na religião.

_ Tem um tipo específico de cão que oferecemos!

_ O quê? Só pensava: Não posso ouvir isso! Está estragando tudo o que penso de Bali. Queria gritar!

Depois ouvimos a história de um ocidental que foi morar na ilha e estava abrindo uma loja. Ele foi coagido a fazer o sacrifício de animais: seriam dezenas de galinhas que após mortas seriam enterradas ao redor da loja. Isso traria proteção e boa sorte. Ele se negou, pois não queria envolvimento com esses ritos, mas logo foi alertado. Se você não fizesse "poderia" ficar sem o negócio. Boicote ou atentado? Ele não sabe dizer mas não pagou o preço para saber. Topou e deixou que fizessem.

Corta! Corta! Corta! Gritou meu "eu interior" como um diretor de cinema.

Deixa ficar com a visão linda da ilha harmoniosa, voltando para o mundo fantástico de Carolina... E quando percebi estava no meio dos campos de arroz. Eles não perdem a oportunidade, cada pedacinho de terra, tem uma plantação. Mesmo nos bairros que não estão na zona rural, como no excêntrico Ubud. A região cultural e descolada fica no centro da ilha, onde também tem a famosa floresta dos macacos. Quem não curte macacos, tome cuidado ao passar por aqui. Eles gostam de chamar atenção, pedir comida e roubar sacolas. Os danadinhos arrancam da sua mão e só vão descobrir o conteúdo em cima dos postes e telhados.

No fim descobri o porquê muitas pessoas não vão embora, e os que vão, querem voltar. Como nós, brasileiros, Bali tem um povo carismático e hospitaleiro. Uma ilha encantadora com atmosfera religiosa que contagia até o mais cético. Entendendo ou não, a sensação é de querer morar aqui. E a esperança é de voltar!

Saio de Bali pensando nem tanto ao mar e nem tanto a terra. Nem muito à piscina e nem muito ao templo. O equilíbrio entre os dois é um bom caminho a seguir.

E como um sábio amigo diz: tem hora para tudo.

Campos de arroz. Paisagem tradicional em Bali.

Templo Taman Ayun,
patrimônio mundial da UNESCO.

Um templo em cada esquina.

Oferendas deixadas nas calçadas.
Tem que tomar cuidado para não pisar. 

Macacos lindos e amáveis na floresta sagrada dos macacos
no centro de Ubud.

Mãe amamentando enquanto observava turistas.

Fiz parte da família. 


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