"Mais ou menos como nós: quando temos um espaço no quintal, corremos e construimos lindas piscinas. Eles mesmo sem espaço montam os templos."
Pisei em Bali sabendo que queria ficar. Senti algo estranho e não era o "famoso" frio na barriga.
Bali se revela aos poucos. Cada bairro tem uma atmosfera diferente, mas só compreendi a personalidade de cada área na segunda vez que voltei com mais tempo.
Às vezes, parece apenas uma cidade grande com uma arquitetura misturada, outras é perfumada pelo ar praiano. Ainda pode-se dizer do cheirinho de mato do campo ou da boêmia bucólica das ruas estreitas.
A ilha é a única hinduísta, entre tantas outras muçulmanas que compõe a indonésia. A religião não se faz presente apenas na decoração e nos muitos templos, mas está na atmosfera. Como eles vivenciam e tentam expressar sua filosofia. O hinduísmo balinês tem as suas características próprias. Apesar de ter vindo com mercadores indianos há muitos séculos, acabou distanciando de alguns conceitos e criando outros. Mas descobri o que Bali "TEM" com o Made, um balinês simpático, muito espiritualizado e que adorava contar sobre sua cultura.
Made é o nome dado ao segundo filho. Sobrenome por aqui não existe -- você é o Made, da província "X", da região "Y" e do templo "Z". O nome do templo é o nome da casa da mãe e consequentemente seu sobrenome. Aqui cada casa tem um templo, você consegue avistar nos jardins por cima dos muros de pedra. Mais ou menos como nós: quando temos um espaço no quintal, corremos e construimos lindas piscinas. Eles mesmo sem espaço montam os templos.
Quando a mulher casa, não recebe o nome do templo do marido (sobrenome), mas passa a morar na casa da família dele e a pertencer ao mesmo templo. Dentro do mesmo terreno, em volta de um templo, observam-se muitas casas, uma ao lado da outra. Muitas famílias moram juntas do mesmo. Já imaginou a confusão que seria aplicar algo semelhante na nossa cultura?
Mas o que diferencia esse pequeno povoado que manteve as raízes, é o equilíbrio. Eles acreditam e praticam o equilíbrio como cultura de paz.
Cada balinês faz três preces por dia, para a harmonia com as pessoas, com o meio ambiente e com Deus - o universo. Dizem o quanto é importante gerar e cultivar pensamentos positivos, de paz e ter uma mente equilibrada. Além das rezas, meditam e fazem yoga diariamente. Conseguem imaginar uma sociedade assim? Isso explica o porquê tantas pessoas que chegam a Bali e nunca mais irem embora.
Templo Ulun Danu Bratan. Localizado nas montanhas: é difícil um dia que não esteja nublado. |
Templo usado para cerimonias de purificação. Localizado dentro da floresta dos macacos, fica escondido perto do riacho. |
Bairro residencial com templos nas ruas e dentro das casas. Família com vestes religiosas indo para cerimonial na época de cremação coletiva. |
Mas como todo lugar, descobrimos algumas contradições como os sacrifício de animais. Triste realidade, preferi não focar no assunto.
Na segunda ida a Bali, poucos meses depois, um outro Made (sim, metade da cidade chama Made) perguntou:
_ Você não gosta de briga de galo?
_ O quê????
Parecia uma máquina mostrando os bichinhos presos em cestos no meio da rua esperando uma rinha. É tradição local. Tão absurdo em imaginar que isso ainda acontece em nosso país, mesmo sendo proibido. E piorou quando o assunto foi para sacrifício animal na religião.
_ Tem um tipo específico de cão que oferecemos!
_ O quê? Só pensava: Não posso ouvir isso! Está estragando tudo o que penso de Bali. Queria gritar!
Depois ouvimos a história de um ocidental que foi morar na ilha e estava abrindo uma loja. Ele foi coagido a fazer o sacrifício de animais: seriam dezenas de galinhas que após mortas seriam enterradas ao redor da loja. Isso traria proteção e boa sorte. Ele se negou, pois não queria envolvimento com esses ritos, mas logo foi alertado. Se você não fizesse "poderia" ficar sem o negócio. Boicote ou atentado? Ele não sabe dizer mas não pagou o preço para saber. Topou e deixou que fizessem.
Corta! Corta! Corta! Gritou meu "eu interior" como um diretor de cinema.
Deixa ficar com a visão linda da ilha harmoniosa, voltando para o mundo fantástico de Carolina... E quando percebi estava no meio dos campos de arroz. Eles não perdem a oportunidade, cada pedacinho de terra, tem uma plantação. Mesmo nos bairros que não estão na zona rural, como no excêntrico Ubud. A região cultural e descolada fica no centro da ilha, onde também tem a famosa floresta dos macacos. Quem não curte macacos, tome cuidado ao passar por aqui. Eles gostam de chamar atenção, pedir comida e roubar sacolas. Os danadinhos arrancam da sua mão e só vão descobrir o conteúdo em cima dos postes e telhados.
No fim descobri o porquê muitas pessoas não vão embora, e os que vão, querem voltar. Como nós, brasileiros, Bali tem um povo carismático e hospitaleiro. Uma ilha encantadora com atmosfera religiosa que contagia até o mais cético. Entendendo ou não, a sensação é de querer morar aqui. E a esperança é de voltar!
Saio de Bali pensando nem tanto ao mar e nem tanto a terra. Nem muito à piscina e nem muito ao templo. O equilíbrio entre os dois é um bom caminho a seguir.
E como um sábio amigo diz: tem hora para tudo.
Campos de arroz. Paisagem tradicional em Bali. |
Templo Taman Ayun, patrimônio mundial da UNESCO. |
Um templo em cada esquina. |
Oferendas deixadas nas calçadas. Tem que tomar cuidado para não pisar. |
Macacos lindos e amáveis na floresta sagrada dos macacos no centro de Ubud. |
Mãe amamentando enquanto observava turistas. |
Fiz parte da família. |
Lindo 🌷
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