outubro 10, 2015

ET: minha casa



"Muitas vezes me sinto um ET por não entender a língua, os costumes e a comida."


Nunca pensei virar objeto de observação. Confesso que sempre tive a mania de buscar com olhares os acontecimentos mais inusitados, mas até aí virar um, nunca passou pela minha cabeça.

Hoje moro em Kuala Lumpur, capital da Malásia, sudeste asiático. Como vim parar aqui? Ainda me pergunto isso também. Não sei ao certo. Tudo aconteceu rápido demais e quando percebi, a “Cinderela” acordou em outro planeta.

Muitas vezes me sinto um ET por não entender a língua, os costumes e a comida. Muitos que já passaram por KL -- como é conhecida a cidade -- podem achar exagero, mas é fácil passar de turismo ou ficar pouco tempo. A cidade é cosmopolita, tem muitos estrangeiros e algumas bolhas ocidentais, uma delas, um dos meus locais predileto para tomar chá da tarde. Mas para quem vive fora da bolha, tem uma casa para montar e uma vida a construir pode ser um pouco desafiador.

Desafiador mesmo foi enfrentar o trem da destruição. Destruição da autoestima (risos). Uma das minhas primeiras tarefas. A “princesa” não tem mais carro e tinha que aprender a se locomover sozinha! O trem que liga a região central ao bairro onde moro, por sinal um dos locais mais lindos e calmos de KL, tem uma definição: muitos olhares e nenhuma palavra.

- Estão me olhando? Mas por quê? Estou de calça e camiseta, não mostro nada e ainda assim olham? Pensei inúmeras vezes.

Sim olham. Olham porque sou mulher, sou ocidental e acima de tudo porque sou a diferente por aqui, ué! O que podia esperar?

Dia tranquilo no trem que liga o centro aos bairros residenciais.

Rua estreita com vista da torre KL.

Na primeira vez que entrei no vagão virei um caramujo, fiquei procurando a concha para esconder na toca.
Há aqueles que olham com desejo, outros com desprezo e ainda tantos outros de curiosidade.

Comecei analisar meu lado ET e como me relacionaria com todas essas figuras. Os homens mais abusados ao olhar, fuzilam e nem se preocupam se seu marido está ao lado. Após inúmeras viagens percebi que minha aversão ao olhar atrevido perdeu força. Também passei a ter atração pelo olhar curioso, com isso igualei o preconceito. Se me olham porque sou diferente, também olho por o serem e no fundo somos todos iguais.

Todo mundo fala isso. Também é o que devemos pensar por ética humanitária, certo? Mas de verdade, sentimos? Se me sinto um ET, já não sou igual! Mas quem nunca se sentiu um ET até dentro de sua própria família? 

Na filosofia tudo é lindo, mas viver a realidade da diferença, conseguir tirar os óculos escuros e enxergar de frente já é outra questão. E para não me sentir mais fora do planeta decidi fazer parte dele e descobri que basta um sorriso para quebrar um olhar. Aí está o segredo, a grande comunicação entre todos: sorrir.

Não sabe falar, não tem problema! Sorria e balance a cabeça, pouco, muito, apenas um lado, apenas frente, assim define melhor se quer dizer um olá. Um sorriso pode dizer mais que um olhar?

Nesse momento prefiro acreditar que sim, mas os dois unidos podem formar uma linda face.

Tudo dará certo se você simplesmente sorrir, já dizia a música que virou meu lema na terra desconhecida que aos poucos se torna minha casa.  

Torre KL vista da entrada da academia de luta.

Entrada da galeria de Kuala Lumpur.




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