novembro 06, 2015

Guerra de carrinhos



"Hoje o carrinho faz parte do meu corpo, como a bolsa. Qualquer coisa que pego o carrinho está sempre encostado em mim. Assim protejo o coração do enfarto e afasto os olhos na busca do carrinho alheio."


A primeira base de sobreviventes em qualquer país é a comida. Ser vegetariana e natureba só complica ainda mais... Se já era difícil escolher um prato no cardápio durante uma viagem, imagina fazer a compra do mês.

A saga começou há apenas dois dias após meu desembarque.
_ O que precisamos? Você fez a lista?
_ De tudo! Passa e pega...

Quem gosta de fazer compras em mercadinho de bairro ou algum local menor não o encontrará por aqui. O menor de todos leva o nome Big na frente. Isso mesmo, Big Aeon, quer dizer que é uma das menores unidades daquele supermercado. As grandes redes vendem de tudo, como já estamos acostumados, mas e a preguiça de andar por todos os andares do Big, Hiper, Super e por ai vai. Conheci os principais nomes e acabei me especializando em buscar novas opções em lugares mais distantes que têm produtos específicos. Calma, chego lá.

Quem come tudo industrializado fica mais fácil, já que muitos rótulos estão em inglês e são muitas as variedades de produtos importados. Agora se é adepto de uma dieta fresca, vai tremer na base até entender o que são aqueles nomes. Ops! Não tem como traduzir, muitos estão em chinês e não temos no nosso país. Logo: só Deus sabe o que são. Criei uma lista. Comprava o que achava bonito, fazia e anotava o que gostava. Fiz uma longa pesquisa sobre verduras e descobri que a maioria não tem aqui. Mas tem coisas semelhantes da mesma família. Ufa!

Porém a maior aventura de todas aconteceu no segundo dia de Malásia. Supermercado gigante, cheio e tinha que passar de corredor em corredor domando a ansiedade em voltar logo para dormir (fuso +11). Assim que lotei o primeiro carrinho, deixei uma amiga tomando conta e continuei a piração escolhendo coisas do que um dia poderia precisar. Quando você não tem nada em casa, vai precisar do quê? De tudo! Mas lógico que nesse tudo vai esquecer das coisas principais. E assim o segundo carrinho estava pela metade quando deixei os dois juntos para pegar um produto no fim do corredor.
_ Você pegou um dos carrinhos? (Ouvi ao longe... Parecia um sonho...)
_ Não! Porque?
_ Sumiu! (O sonho virou pesadelo)
_ Roubaram nosso carrinho de novo????

Um dia antes... Andava por uma loja de departamento comprando lençol, panela e outros objetos de sobrevivência, quando percebemos que o carrinho que deixamos por cinco minutos ao nosso lado enquanto víamos um armário, havia desaparecido! Vai ver que se confundiram. Acontece!

Novamente, não! Sai procurando o dito carrinho pela metade e nada de encontrar... Estava ali fazia 4 horas pensando no que comer, no que limpar e obviamente que não lembraria dos produtos que havia pegado. Achamos que era apenas má sorte de iniciante e a história virou comédia entre os amigos. Fiquei conhecida pela fúria ao carrinho. Até que alguns meses depois... Em outro supermercado... Em outra região da cidade....

_ Esse carrinho é meu! Ouvi uma voz gritando!
_ Ah desculpa... Quase como um sussurro...
_ Desculpa? Você estava pegando um carrinho com produtos dentro...

E assim começou a guerra do carrinho... A menina estava com dois cestos lotados nas mãos, e provavelmente por preguiça não quis andar até a entrada para pegar um vazio, então resolveu pegar o primeiro que encontrasse... Só não esperava encontrar a louca pelo carrinho que estava ao lado focada na busca de um papel higiênico, outro artigo que se deve ter olho clínico ao comprar.

O carrinho vira uma arma.

Eles não servem apenas para colocar comida...

Hoje o carrinho faz parte do meu corpo, como a bolsa. Qualquer coisa que pego o carrinho está sempre encostado em mim. Assim protejo o coração do enfarto e afasto os olhos na busca do carrinho alheio.

Após algum tempo, a saga do supermercado perfeito virou experiência de vida. O mais engraçado é que encontro um produto em cada canto e não meço esforço em buscar o requeijão cremoso da Arábia Saudita em um, o queijo "mozzarella" tipo cavalo no outro, o vinagre de uva (raro por aqui) em outro e as proteínas de soja. Ah as proteínas...

_ A senhora vai levar tudo? Um senhor perguntou.
_ Sim, mas se o senhor quiser posso dividir.
_ Não, pode levar, era só curiosidade. Deve gostar muito disso!

Estava há semanas em busca daquele presunto de whey e soja tipo chinês. Comprei tudo quando encontrei!

E para fechar com chave de ouro:
_ Você está de mudança? Pergunta um vizinho no elevador.
_ Não. Só fui ao supermercado.
Nem eram tantas sacolas, mas o rapaz ficou inconformado e me senti coagida em dar alguma explicação para que acalmasse aquele olhar:
_Gosto de escolher as comidas frescas e não comprar pela internet.
Um Ahhhh soou no ar.

As pessoas não têm o costume de fazer e levar as compras. Muitos usam sites, mas as gostosuras que estamos acostumados precisam ser localizadas com olhar clinico e sistêmico, de gôndola em gôndola, sessão orgânicos ou naquele cantinho esquecido para os estrangeiros. Sinto-me uma "gringa" fazendo compra no Santa Luzia e uma retirante chegando em casa com mil sacolas.

No fim das contas de carrinho em carrinho, a novidade passa e só ficam as boas histórias. No fundo todo supermercado é igual e é só questão de tempo para encontrar tudo que meu estômago pede. Próximo da lista: açaí!

Quase tudo é frito na Ásia. Talvez isso explique a quantidade
de óleos. São prateleiras e prateleiras só para eles.  

Na terra do arroz, um corredor com centenas de tipos. Acredite,
não é fácil escolher, nem fazer. Tem manual e regras de cada grão.
Complicado é encontrar pacote de um quilo.  

Outro produto que ganha destaque e corredor lotado é
o molho shoyu. Difícil é encontrar o "light".   

Muitos lugares você paga pela sacola. A maioria das pessoas
lota o carrinho apenas com os produtos e leva assim mesmo. 


Um comentário:

  1. Deborah Ronitnovembro 06, 2015

    ai que aventura... adoro conhecer supermercados ao redor do mundo!!!!

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