outubro 13, 2015

Bolha ocidental



"É preciso perder, para dar valor."


O velho ditado piegas "é preciso perder, para dar valor" faz sentido. Apesar da pouca originalidade, é a forma mais simples que encontrei para expressar o momento. A palavra "perder" não está bem empregada, por isso vamos substitui-la por "estar sem". Não sentimos falta de uma faca, certo? Errado! Não sentimos, porque temos, caso contrário, passará dias em busca de uma. Foi mais ou menos assim a chegada ao Oriente. Nem fazia ideia de que isso aconteceria o tempo todo, até começar a criar a minha bolha ocidental.

KL é uma grande capital. A maioria é composta por estrangeiros. Nem tantos ocidentais e aí mora a aventura de tudo. Os chineses chegaram na região por volta do século IV, onde aconteceu a primeira mistura com o povo local. Após anos com colonização inglesa e muitos expatriados do mundo todo, KL tem cara internacional. O povo local é confundido com chinês o tempo todo. Acabamos falando os "chineses malaios" e a língua também virou aquela bagunça. Fala-se inglês em quase todos os cantos, a não ser que você se distancie um pouco. Sempre que passo pelas barracas de comida no meu bairro, paro para conversar com o povo nativo. Adoro! Tão sorridentes! Devem me achar maluca, não conseguimos falar nada mais que: "-oi, tudo bem?", cabeças se balançam, sorrisos nascem e sigo viagem.

A língua oficial é o bahasa malaysia (língua malaia), mas apenas os locais acabam usando. Além do inglês, ouvimos o tempo todo mandarim e tamil, língua do sul da Índia. Sim, aqui tem muitos indianos, e a maioria é dessa região. É tão expressivo o número de pessoas desses países que tem dois bairros que dizem tudo: Little India e Chinatown. Mas nós ocidentais não ficamos perdidos nesses "deligths" exóticos. São mais de cem shoppings para nos lembrar de casa.

Vendedor chinês em Chinatown.

Vendedores Indianos na Little India.

Policial Malaio na Little India.

Senti o cheiro do polo de moda e caí logo de cara no local mais "fashion" e glamoroso. O Pavilion. Na verdade são dois shoppings que dividem as principais grifes, mas meu olfato de longo tempo na profissão me levou direto aonde tudo acontece. Virou meu refugio, tomar chá em uma casa inglesa para lembrar os cafés da tarde com a mamãe e continuar o costume da família. Vovó ficaria orgulhosa de mim, mas ainda faltam as amigas para o tradicional ritual de Dona Mariinha.

Não são só das pessoas que sentimos falta e sim de pequenas bobagem que fazem dos meus dias uma perfeita gincana a procura de produtos. No começo eram as comidas que me deixaram com muitos cabelos brancos. Foram mais de 10 supermercados em dois finais de semana. Cadê feijão? Carioquinha? Preto? Comprei todos que encontrei. Todos! Agora fico testando um a um e uma frustração após da outra. Além de não ficar com o sabor do caseiro feijão da Dona Laine, fica duro. Primeiro dia foi uma saga. Após o dia todo na panela, o coitado estava despelado e sem sabor. Sentei na cozinha e chorei! Foram semanas testando verduras que não fazíamos ideia do que seria e buscando proteína de soja. Foram vários desafios gastronômicos. Estou viva e felize! Deixarei esse assunto, que rende um livro, para depois.

Melhor que procurar, é a felicidade de encontrar.
_ Achei! Achei!
_ O quê?
_ O removedor de esmalte! Xícara pequena de café! Faca! O jogo de lençol completo!!!! Faqueiro!!!

O faqueiro não encontrei. Tive que comprar tudo separado. E jogo de lençol? Não vem a parte de cima! As vendedoras perguntam o porquê quero a parte de cima! Antes que você pense, sim, tentei as lojas internacionais, mas já estou quase me acostumando com a ideia de não ter e quando liga o ar, começa a briga...
Passei a usar colcha de lã. Lembrança da avó, na época que ainda tricotava.

E assim você dá valor a pequenas comidas e objetos que jamais pensou. Mas quando voltar sei que vou procurar nos cantinhos orientais de São Paulo, alguns toques de sabores que passei a apreciar aqui. E sentirei saudades das "délicatesses" malaias. A busca jamais acaba!

Barracas de comida no bairro.

Entrada da barulhenta Chinatown.

Arcos decorativos na graciosa Little India. 

Chá da tarde - tradição de família. 

4 comentários:

  1. Camila Montandonoutubro 13, 2015

    Que máximo suas experiências amiga! Compartilhe!

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    1. Obrigada! Compartilho sim, toda semana colocarei mais novidades por onde passar aqui na Asia. =)

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  2. Mesmo sem o feijão da Dona Laine e outras "cositas mas"... que delícia de experiência!!! Parabéns pelo texto!

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    1. Obrigada! Depois de alguns meses já faço feijão brasileiro... kkkkkk, encontrei uma marca com tipo de grão inusitado! "Pintu beans"kkk =)

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